sábado, 20 de novembro de 2010

[Ele atendeu o telefone, com certo descaso]
- Olha, eu não to com muita vontade de falar…
- Então só me escuta… Pode ser?
- Tá bom.
- Não fala nada, até eu terminar…
[Silêncio]
- Olha - ela começou - eu não sei se deveria estar fazendo isso, se eu deveria mesmo me expor desse jeito, se eu tinha mesmo que te ligar e te falar isso tudo que eu vou falar agora. Pode ser que mude alguma coisa para você, ou para mim, talvez para nós, pode ser que continue a mesma merda, pode ser que você nem mesmo preste atenção e pode ser que a ligação caia e eu não perceba. Enfim, é tão bizarro quando as pessoas falam para eu te esquecer, para te deixar de lado, porque você não merece o que eu sinto, ou o que eu tento fazer por você, mesmo que não seja muita coisa, mas não é fácil. Eu até já pensei em desistir mesmo, em fingir que nada disso nunca existiu, que nunca gostei de você, e que você não mudou minha vida nem um pouco. Na verdade, as vezes eu tenho muita vontade de fazer isso, mas é tão sei lá, surreal, sabe? É quase impossível, possível, mas não provável, não te procurar durante o dia, não olhar meu celular o tempo todo para ver se tem uma mensagem, uma ligação, um sinal de que você me procurou, que teve vontade de falar comigo. Eu já disse que não sei por que eu to dizendo tudo isso?
[Silêncio]
[Suspiro]
- Você me fez mudar tanto - ela reiniciou - você mudou tanta coisa na minha vida, as vezes eu paro do nada e penso “cara, eu to gostando mesmo…”, e aí eu lembro que tinha tanto tempo que eu não sentia isso, não me sentia bem como eu me sinto, tinha tempo que alguém não me fazia tão bem quanto você me fez, mesmo que você ligue só para me xingar, porque eu sei que no fundo isso tudo é amor.
[Breve pausa]
- Eu sei que eu já disse várias vezes que não acreditava no que você me falava, e para ser bem sincera, diversas vezes eu não acreditei mesmo, e as vezes ainda acredito desacreditando. Eu tenho medo sabe, de gostar demais, e depois ver que aquele “demais”, não valia tanto a pena, e as vezes eu acho que você tem medo também. Sei lá. Você é tão diferente de mim, e as vezes é tão igual. As vezes você fala o que tá sentindo, e de repente se fecha, e eu fico confusa, eu não consigo entender, não consigo te entender. Mas de repente não importa se eu te entendo ou não, o que importa é que você tá lá, para mim. Talvez não só para mim, mas você tá lá. Eu não sei de muitas coisas do seu passado, e não faço questão de saber. Eu só queria saber se ainda tem espaço para mim no teu presente e no teu futuro.
[Suspiro]
- Olha, se quiser desligar agora, eu vou entender, até porque você não quer conversar. Enfim… Acabei.
[A campainha toca]
- Vou desligar, tem alguém aqui. Beijos.
[Ela desliga o telefone e abre a porta]
- Eu precisava vir aqui, só para te falar que eu te amo - diz o garoto com o telefone em mãos.